domingo, 1 de abril de 2007

O que é a educação?

Ontem percebi que aprendi muito sobre um assunto que suga a humanidade para dentro de um enorme buraco negro. Assisti ao filme Route 181, Fragmentos de uma Viagem na Palestina-Israel, de Eyal Sivan (Israelense) e Michel Khleifi (Palestino). O filme percorre a fronteira Palestina-Israel, delineada pela resolução 181 da ONU, em 1947.
Eyal Sivan é um homem muito arrogante, que tem aquela vitalidade de quem cruzou uma linha e pode se considerar um cidadão total, no sentido de que questiona tudo e todos.
Ele falou da ética do poder, e o abuso do poder perpetrado por ele com sua filmadora quando confrontou e humilhou um soldado Israelense. Ele disse: "O soldado é uma expressão de poder, não é mais um individual, portanto isso justifica a câmera agir da mesma maneira. O soldado judeu não protege leis, protege a 'etnicidade', Eu estava além das leis, quebrando as leis, humilhando ele, mas sou da mesma religião que ele, então ele não pode me prender, me repreender. Isso prova o colapso da nação, em que leis já não definem mais nada."
Falou-se em termos de o narrador do documentário anular a sua verdade para poder representar a do outro. (Zu, um amigo meu ligado ao culto dos antepassados descreveu seu papel de dirigente como 'me desnudar do lado material') Eyal falou que a nação, para ele, é um plebiscito diário. Tudo isso rolou numa mesa redonda que tinha como convidado o Eyal, uma palestina chamada Azza El-Hassan, e o jornalista Demétrio Magnoli. O curioso foi que o Demetrio acabou irritando os dois.
Ele falou o seguinte: "A nação é uma produção cultural, imaginada por quem fala, pinta, canta. É uma invenção das tradições. A narrativa de Israel invoca o 'RETORNO', baseada na memória ancestral de milhares de anos. Quando voltam para colonizar, coms seus povoamentos, a Palestina, dão aos lugares nomenclaturas judaicas, que tem ressonâncias bíblicas, e anunciam que Israelenses vão fazer o deserto florescer, que de fato aconteceu. Criam uma imagem dos palestinos com beduínos, nómades, pessoas sem vinculo a terra. Ao mesmo tempo os "Palestinos" criam a ideia de seu RETORNO, quando na verdade eles só pensaram na criação de seu estado anos e anos depois de ser expulsos. Ficam eles com as chaves das casas que não existem mais. O problema é que os dois lados estão presos a essa identidade de vitimas de não poder RETORNAR. Ora, os judeus são vitimas durante milhares de anos, e a própria europa é formada depois que são expulsos da espanha. Eles todos acham que os árabes vão empurrar eles para dentro do mar. Mas esta perpetua inabilidade dos lados de RETORNAR, serve aos dois lados, aos dois 'poderes'. Gera essa narrativa de vitimização. Os dois países são iguais nesse sentido." Etc..
Azza e Eyal ficaram loucos de raiva, juntos, e contra o jornalista brasileiro. Eyal falou:"Israel estupra a Palestina, mais quando criança, Israel tmbm foi estuprada. Na verdade eu estou com saco cheio de todo mundo tratar Israel como um bebê." O filme dele mostra o que ele mesmo descreve como a 'nazificação' de Israel, aparentemente o tema de um outro filme de alguns anos atrás que foi reverenciado. Busquei no site do Oscar mas não encontrei (o site do oscar não descreve os filmes...) Realmente o filme é muito forte, e recomendo ele pelo debate que abre. Eyal vê em tudo isso o paradoxo: "Meus filmes recebem dinheiro de Israel para eu poder atacar o meu povo, e fazer eles de vitima (de mim)." Na realidade nunca vi um filme do 'É tudo verdade' fora da mostra.
O Magnoli totalmente ignorou os dois. Continuou: "Israel precisa de dois olhares. O de cima, do pássaro, o olhar de estranhamento, de fora. E precisa do olhar de baixo, de pessoas verdadeiras. Vcs dois questionam suas próprias etnias, seus cidadãos, e ao fazer isso vcs questionam o 'nós' do nacionalismo."
A educação é aquele momento em que a gente aprende novas coisas e aprende a ver melhor, escutar melhor, e não chegar tão rápido a uma conclusão. Infelizmente, este conflito vai ficar por ai por anos e anos, e vamos ter que ser 'educados' sobre ele durante estas décadas todas.