domingo, 31 de outubro de 2010

Razões pelo atraso

Passei 14 semanas entre março e maio transcrevendo o filme inteiro, estruturando e editando os capitúlos. Nunca fiz uma transcrição de um filme, mas fiz nesse caso pois este filme não se constroi a partir de rituais especifícos (como a Lágrima) nem argumentos (Reinos): se constroi a partir de conversas soltas. No final de maio recebi um telefonema de um babalorixá me informando que trechos de a 1ª Lágrima estavam na net. Bem, não quero entrar em maior detalhes, mas os trechos funcionaram como um sinal: chegou o momento de terminar o filme sobre Yewá. Queria lançar A Balança primeiro, mas agora estou entregando a ordem desses filmes aos deuses. Basta dizer que A Balança - o filme que apresenta o culto aos ancestrais principalmente do ponto de vista dos Ojés - que esta 70% editado, será para 2011...uma grande pena.

Proteção para quem nunca viu um Egum

Entre festas no Ilê Egungun

Trono montado em loco. Diadema.

Cadeira-tronos laterais - Foto da exposição 'TRONOS'

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Peter Owen Jones's Around the World in 80 faiths

Peter Owen Jones, who heads the 8-part BBC series, embarked on what is, without a doubt, the most interesting journey the BBC has ever taken anyone on. I would have to change my IP address to the UK to watch his interview on the site, which is a shame. Do I get Peter? Well, I don't think I would take him very seriously as a priest, and so why would I take him seriously as a show-host? Wearing the same Indiana Jones style gear as Monty Don in his 80 gardens saga, one is left wandering if there is a workshop one attends in order to make these programs in the Lara Croft Foundation.
However, embedded in Monty Don's authenticity and tongue-in-cheek enthusiasm are a series of well structured premises. Gardening is a universal language spoken by all, which is why this task is perhaps even possible.
One could argue that Owen Jones is up against a much greater challenge, but I kept feeling he wasn't taking it as seriously as he could. Off the bat, in the first series he is talking to his 'informant' about tau-tau effigies. In what must have been a replay of the conversation the informant explains that the hands turned down simbolize monotheism, and turned upwards polytheism. "Christianity has stripped them of their meaning." is what Pete says. No priest is at hand to confirm this: their needn't be, Pete is a Christian priest. But that isn't the point. 'Christianity' is presented as a being, a thing that magically ordered the new Tau-taus to take on this new shape. And herein lies part of the problem of the series, and one which Pete admits to not really understanding - how syncretism works.
I remember socializing with both a Rabbi at Bristol, and a Catholic priest in Hampstead, both introduced to me by my friend Adrian, and seeing in both of them the same thing I see in Peter: spiritual role-playing. Being a man of the cloth isn't about the institution per-se in Britain, but it is about the people the man of the cloth must bring in through the doors of the intitution he (or she) represents for its basic survival. That means that people like Peter can be men of the cloth while being normal members of society, who drink, smoke, marry and - this is the part that bothers me - play to a BBC agenda of what society wants in a TV program first and foremost, before defending his own spiritual agenda. His is not a spiritual man's quest, but a BBC/Society quest.
Monty is in fact on a quest with his gardens, and one he tries to convince the viewer to participate in and discover with him. Jones, on the other hand, doesn't want to be seen trying too hard to be an intellectual, because he is doing what he does in his church where his parishioners obviously see him as the ex disco-owning DJ who dresses up as a priest. By extension, we will enjoy the sight of an 21st Century pseudo-explorer clergyman 'mucking in' with the world's religious oddities: playing the role of the world's first multi-faith TV missionary, if you will.

sábado, 17 de abril de 2010

Padilha, Appel e afins

Segredos da Tribo, do Padilha, foi uma boa aula de como costurar depoimentos para criar polêmica. Padilha se mostra mais uma vez um ente com um mínimo grau de espiritualidade, que busca sempre o pior do ser humano. ônibus 174, Tropa de elite nos encaminham a pensar que ele sempre busca enfocar aqueles resíduos e erros da vida, e de fazer filmes que reduzem as falas das pessoas a isso também.

Entre os momentos que mais me marcaram ocorre quando o primeiroa antropólogo a se fixar na tribo dos Ianomami, Napoleon Chagnon, finalmente terá seu momento de se defender das acusações de genocidio no filme. Primeiro, enquanto antecipamos a defesa, Padilha mostra ele caçando, como se o Chagnon de fato fosse um caçador-matador, com rifle na mão. A defesa verbal de Chagnon acaba sendo fraca: me pergunto se ela realmente era tão fraca assim, ou se tinha que ser para o filme funcionar. Outro momento que chamou a atenção foi quando o Tierney foi apresentado incidentalmente, como se fosse mais uma voz no filme. O fato é que o filme se constroe TOTALMENTE em cima do livro do Tierney. Tierney diz 'não queria fazer um livro sobre Chagnogn, por que ele é um burraco negro que chupa tudo pra dentro'. Que eu lembro nenhum índio falou mal do Chagnon. Eis aqui uma resenha sobre o livro do Tierney sobre o qual o filme foi elaborado:

In 2000, Tierney published Darkness in El Dorado, which accused geneticist James Neel and anthropologist Napoleon Chagnon of exacerbating a measles epidemic among the Yanomamo people, among other damning allegations. This work was nominated for a National Book Award, and was well-reviewed (see [1]).

Tierney's charges were investigated by a group of researchers headed by John Tooby, Edward H. Hagen, and Michael E. Price. Per a preliminary report issued in 2001 [2], the investigators concluded it was not Chagnon who committed any wrongdoing, but Tierney, who fraudulently altered evidence to support a story he either at best imagined or at worst manufactured. A separate investigation by the American Anthropological Association joined Tierney in questioning the conduct of Neel and Chagnon; however, the association rescinded its report in 2005, stating that the "investigation did not follow basic principles of fairness and due process for the accused" (see [3]).


A cena final em que a camera passa pela feira de livros das editoras ligadas a departamentos de antropologia de universidades americanas me deixou aflito também: insinua-se que a disciplina inteira é oportunista e exploradora, e ficamos a pensar que todas as tribos e grupos investigados nos livros ali expostos deviam tmbm ter sofrido...

O Jogador de John Appel segue no caminho inverso. O diretor parece querer se colocar como igual para igual com 3 jogadores que o filme enfoca. Sentimos nesse filme que o diretor passou muito tempo conhecendo seus jogadores antes de ligar a camera. Por ter sido vítima de um pai jogador, chegamos ao filme com o olhar estudioso, profundo, e penetrador do cineasta que quer entender o pai através dos sujeitos que escolheu para participarem do filme. Grande filme, que soube explorar o lado pessoal do diretor para então poder 'decifrar' o filme em sí.

O outro filme que chamou atenção no festival foi Terra deu Terra come, rodado em Diamantina, sobre um garimpeiro. Não ha duvida que esse persongame foi um grande achado, e que o diretor apostou bem, como ele mesmo admitiu na sessão da sexta. O problema do filme é que não houve entrega ao assunto, nem conhecimento suficiente sobre a herança africana mineira. O personagem principal fica como uma 'curiosidade' para a equipe que parece mais interessado na imagem cinematográfica do velho do que no mundo que ele habita. O filme tinha tudo para ser uma grande obra. Para isso os produtores teriam que passar mais tempo com o personagem e feito um curso relampago sobre a cultura bantu. Inverter uma bananeira para recriar um enterro ao pedido da equpie corre o risco de criar uma nova etnografia para um assunto que carece de registros. E mais: sentimos que os cineastas ali presentes se orgulham demais de dar 'um espaço' e 'visibilidade' para o assunto, quando na verdade o poder fica na mão do protagonista, que não abre mão de seu conhecimento por não achar que os paulistanos merecem saber.