Segredos da Tribo, do Padilha, foi uma boa aula de como costurar depoimentos para criar polêmica. Padilha se mostra mais uma vez um ente com um mínimo grau de espiritualidade, que busca sempre o pior do ser humano. ônibus 174, Tropa de elite nos encaminham a pensar que ele sempre busca enfocar aqueles resíduos e erros da vida, e de fazer filmes que reduzem as falas das pessoas a isso também.
Entre os momentos que mais me marcaram ocorre quando o primeiroa antropólogo a se fixar na tribo dos Ianomami, Napoleon Chagnon, finalmente terá seu momento de se defender das acusações de genocidio no filme. Primeiro, enquanto antecipamos a defesa, Padilha mostra ele caçando, como se o Chagnon de fato fosse um caçador-matador, com rifle na mão. A defesa verbal de Chagnon acaba sendo fraca: me pergunto se ela realmente era tão fraca assim, ou se tinha que ser para o filme funcionar. Outro momento que chamou a atenção foi quando o Tierney foi apresentado incidentalmente, como se fosse mais uma voz no filme. O fato é que o filme se constroe TOTALMENTE em cima do livro do Tierney. Tierney diz 'não queria fazer um livro sobre Chagnogn, por que ele é um burraco negro que chupa tudo pra dentro'. Que eu lembro nenhum índio falou mal do Chagnon. Eis aqui uma resenha sobre o livro do Tierney sobre o qual o filme foi elaborado:
In 2000, Tierney published Darkness in El Dorado, which accused geneticist James Neel and anthropologist Napoleon Chagnon of exacerbating a measles epidemic among the Yanomamo people, among other damning allegations. This work was nominated for a National Book Award, and was well-reviewed (see [1]).
Tierney's charges were investigated by a group of researchers headed by John Tooby, Edward H. Hagen, and Michael E. Price. Per a preliminary report issued in 2001 [2], the investigators concluded it was not Chagnon who committed any wrongdoing, but Tierney, who fraudulently altered evidence to support a story he either at best imagined or at worst manufactured. A separate investigation by the American Anthropological Association joined Tierney in questioning the conduct of Neel and Chagnon; however, the association rescinded its report in 2005, stating that the "investigation did not follow basic principles of fairness and due process for the accused" (see [3]).
A cena final em que a camera passa pela feira de livros das editoras ligadas a departamentos de antropologia de universidades americanas me deixou aflito também: insinua-se que a disciplina inteira é oportunista e exploradora, e ficamos a pensar que todas as tribos e grupos investigados nos livros ali expostos deviam tmbm ter sofrido...
O Jogador de John Appel segue no caminho inverso. O diretor parece querer se colocar como igual para igual com 3 jogadores que o filme enfoca. Sentimos nesse filme que o diretor passou muito tempo conhecendo seus jogadores antes de ligar a camera. Por ter sido vítima de um pai jogador, chegamos ao filme com o olhar estudioso, profundo, e penetrador do cineasta que quer entender o pai através dos sujeitos que escolheu para participarem do filme. Grande filme, que soube explorar o lado pessoal do diretor para então poder 'decifrar' o filme em sí.
O outro filme que chamou atenção no festival foi Terra deu Terra come, rodado em Diamantina, sobre um garimpeiro. Não ha duvida que esse persongame foi um grande achado, e que o diretor apostou bem, como ele mesmo admitiu na sessão da sexta. O problema do filme é que não houve entrega ao assunto, nem conhecimento suficiente sobre a herança africana mineira. O personagem principal fica como uma 'curiosidade' para a equipe que parece mais interessado na imagem cinematográfica do velho do que no mundo que ele habita. O filme tinha tudo para ser uma grande obra. Para isso os produtores teriam que passar mais tempo com o personagem e feito um curso relampago sobre a cultura bantu. Inverter uma bananeira para recriar um enterro ao pedido da equpie corre o risco de criar uma nova etnografia para um assunto que carece de registros. E mais: sentimos que os cineastas ali presentes se orgulham demais de dar 'um espaço' e 'visibilidade' para o assunto, quando na verdade o poder fica na mão do protagonista, que não abre mão de seu conhecimento por não achar que os paulistanos merecem saber.
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